quarta-feira, 19 de maio de 2010

A MINHA RELAÇÃO COM AS LÍNGUAS DE ANGOLA


No passado, vivi com os meus pais, tios e avós, que falavam já a língua portuguesa. Eles tinham, no entanto, algumas dificuldades no uso da língua. Por isso, quando entrei para a escola, foi muito fácil aprender porque eu já falava português. Apenas me fui aperfeiçoando mais.

Em certas ocasiões, tive oportunidade de perguntar aos meus avós o porquê de não falar Kimbundo ou outro dialecto, ao que eles respondiam que não podiam falar pois em parte não era permitido pelo governo e também por causa da escola, pois seria mais difícil aprender. Os portugueses também diziam que os dialectos não serviam para nada

Às vezes, em casa, falávamos o Kimbundo ou o Umbundo com alguns familiares e vizinhos que “noiteavam” em casa dos meus avós. Eram parentes que, no tempo de férias, saíam das províncias, Huambo ou Bengo, e se hospedavam em casa dos avós. Eu ouvia-os a conversarem em dialecto e fui aprendendo algumas palavras, como n'gassaquidila, chito,ua n'gimenequena, tunda mugila e mais. Tanto mais que o Humbundo nunca consegui falar em condições mas vou percebendo mais ou menos algumas palavras e frases. São os dois únicos dialectos que consigo entender. No entanto, nunca consegui escrevê-los, apenas falo e entendo o que me dizem. Quanto aos outros dialectos, consigo distinguir as suas zonas de origem, mas não os falo nem percebo.

Em Angola são tantas as línguas que é impossível perceber ou falar todas. Contudo, o português é a língua mais falada em Angola, especialmente em Luanda, apesar de haver mais de 20 dialectos: O Kimbundo é falado em Luanda, Malanje e Bengo; O Humbundo é falado na parte sul, Huambo, Benguela, Lobito e Bié; O Kikongo é falado no Uíge e Zaire; O Fiote é falado em Cabinda; O Tchokué é falado na parte leste; E os dialectos Lianeka e Kwanhama são falados no Cunene. Mas há muitos outros para além destes.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A MINHA EXPERIÊNCIA DE EMIGRAÇÃO


Nasci em Angola aos doze de Outubro de mil novecentos e cinquenta e seis.
Sempre tive o desejo de conhecer Portugal, mas era difícil para mim pois tinha que ter uma autorização ou ser uma pessoa muito importante para me poder deslocar para Portugal. Para além disso, não tinha dinheiro para tratar da documentação e comprar as passagens.
Tudo foi mais fácil depois da Independência de Angola, em 1975. Alguns familiares conseguiram vir por causa da guerra, já que durante a ponte aérea que se organizou para resgatar os portugueses que estavam em Angola, alguns angolanos aproveitaram esta boleia porque trabalhavam para os portugueses, nos caminhos-de-ferro, na alfândega ou na administração.
No meu caso tive que trabalhar e juntar algum dinheiro para poder vir com a família, por etapas. Primeiro mandei as minhas filhas, irmãs e sobrinhas já adultas. Apenas depois disso pude vir.
Chegada a Portugal, no ano de dois mil, encontrei tudo mais ou menos como previa. As ruas pavimentadas, florestas, jardins organizados, vários transportes públicos, táxis, casas comerciais onde todos têm direito a fazer compras, mercearias, cafés, farmácias etc. Tudo isso também existia em Angola, no tempo colonial, mas depois da nossa Independência tudo mudou, ficou tudo destruído. Ruas, estradas, jardins estradas e também muita falta de transportes públicos.
Em Portugal estava tudo muito bem de princípio, porque fui recebida pelas filhas que já se encontravam cá. O que me desmoralizou foi o clima, as quatro estações do ano e o frio e o calor, muito diferentes dos de Angola. Foi muito difícil adaptar-me ao trabalho tanto mais que até agora me encontro bastante decepcionada com o patrão que encontrei, prefiro não aprofundar o assunto porque, como imigrante que sou, vou trabalhando até onde der, se conseguir uma oportunidade de encontrar um trabalho melhor, deixo este e avanço para outro.
Também consegui fazer amizades com certas pessoas, especialmente portuguesas e algumas africanas que já se encontram cá há muitos anos.
Em virtude da minha vinda a Portugal, já não sou a mesma, mudei muito, na minha maneira de pensar e agir.